ATA DA SEPTUAGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 24.11.1988.

 


Aos vinte e quatro dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Septuagésima Primeira Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada a proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Antonio Jesus Machado Cabreira, concedido através do Projeto de Resolução nº 2208/88 (proc. nº 53/88). Às dezenove horas e quarenta e sete minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Sr. Hugo Reinaldo Filippini, Presidente do Diretório Nacional da ABRP e Presidente da ABRP RS/SC; Sr. Ary Reginatto de Bernardi, Presidente do Conselho Regional de Relações Públicas, RS/SC; Sr. Nei Remedi de Souza, Presidente do Sindicato dos Profissionais de Relações Públicas no Estado do Rio Grande do Sul; Jorn. Fernando Ernesto Corrêa, Vice-Presidente da Rede Brasil Sul de Comunicações; ex-Dep. Nelson Marchezan; Prof. Eurico Saldanha de Lemos, Chefe do Gabinete da Reitoria da PUCRS, neste ato representando o Magnífico Reitor Ir. Norberto Rauch; Sr. Antonio Jesus Machado Cabreira, Homenageado; Sra. Elisabete Cabreira, Esposa do Homenageado. A seguir, o Ver. Brochado da Rocha, em nome da Casa e como proponente da Sessão, falou sobre os motivos que o levaram a propor a presente homenagem, destacando a grande capacidade profissional do Sr. Antonio Jesus Machado Cabreira, que tem elevado nacionalmente o setor de comunicações do Estado. Enfatizou o lado humano encontrado no trabalho realizado por S.Sa. em prol dos excepcionais. Em continuidade, o Sr. Presidente convidou o Jorn. Fernando Ernesto Corrêa e o ex-Dep. Nelson Marchezan a procederem à entrega, respectivamente, do Troféu Frade de Pedra e do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Antonio Jesus Machado Cabreira. Após, a Relações Públicas da Presidência, Magda Parker, procedeu à leitura de mensagens recebidas de saudações ao Homenageado. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o título recebido. Ainda, a Profª. Sandra Terra procedeu à entrega de flores a Sra. Elisabete Cabreira. Em prosseguimento, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às vinte horas e cinqüenta minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Brochado da Rocha. Esta Ata, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.

           

 

 

O SR. PRESIDENTE: Damos por abertos os trabalhos da presente Sessão Solene que se propõe a homenagear o Sr. Antonio Jesus Machado Cabreira com o título honorífico de Cidadão Emérito da Cidade de Porto Alegre. Neste ato, esta presidência falará em nome da Casa e também como proponente desta Sessão.

 

O SR. BROCHADO DA ROCHA: Meus Senhores; minhas senhoras aqui presentes que vieram, juntamente com a Câmara Municipal de Porto Alegre, prestar a homenagem da Cidade ao Cabreira. Dirijo as primeiras palavras e desde já vou me desfazer do imenso currículo que o homenageado possui e que já se encontram nos Anais desta casa e que serviu de amparo legal, de amparo no mérito do Homenageado. Isto os meus nobres Pares já o fizeram. De outra forma, seria extremamente difícil e longo ler o extenso currículo do nosso Homenageado. Efetivamente, o Homem que saía de Santana do Livramento e chegava até nossa terra, tem um currículo invejável. No entanto, os homens, as pessoas não são mensuráveis pelos seus títulos, pelas suas honrarias, pelos seus cursos, pela promoção dos seus eventos, enfim, e por todas as coisas que já foram oferecidas e que já foram de uma forma ou de outra materializada no passado.

Quero reportar-me neste momento especialmente ao profissional de um lado e ao homem artista de um outro. Assim o fazendo, quero destacar que se de um lado, o profissional e o professor conseguiu através dos tempos este currículo, permitir-me não o ler, ele traz em seu bojo invejável capacidade de comunicação. E mais ainda torna-se a figura de Cabreira homenageável na medida em que ele, após realizar tantos serviços nesta Cidade foi nos representar como gaúchos em terras de Santa Catarina. Permitam-me dizer que se é uma honra para nós termos Cabreira, o profissional fora do Rio Grande, representando e sendo um verdadeiro cônsul nas terras de Santa Catarina, onde qualquer um que chega tem nele a melhor acolhida, sobretudo pela sua capacidade profissional que nos enobrece, perde, de outro lado, Porto Alegre sensivelmente a sua figura e o seu profissionalismo. É difícil, Cabreira, passar ao segundo momento, passar ao homem, ao artista.

Isto é difícil porque – e há vários comunicadores, é difícil abordar a figura do comunicador, do homem de comunicação, é muito mais difícil abordar o homem que lida com crianças. Cada um nesta Casa teve uma razão em oferecer seu voto. Mas, a razão mais arraigada que trazia dentro de mim, ao encaminhar a votação era exatamente esta figura que, de um lado, era extremamente alegre a tal ponto de contaminar todos que estão em sua convivência, mas era também a pessoa que se dedicava aos excepcionais, era pessoa que também fazia a figura do palhaço. O palhaço tem toda uma simbologia, tem toda uma dose muito forte de sentimento. Em toda a minha história, Cabreira, de vida já vi pintadas muitas lágrimas, mas nenhuma lágrima reteve tanto em minha memória, quanto a lágrima de um palhaço, que tenho comigo. É o homem que dá alegria para todos, ms que chora por dentro de si. E, este trabalho para os excepcionais, para as crianças é profundamente, valioso, uma sociedade tão difícil, tão rápida, tão dura, tão competitiva, que nós gostaríamos, nesse momento, de deixar marcado para dizer que, nesta Casa, apesar de todas as vicissitudes, dificuldades, do momento que atravessamos, houve um momento, que resolvemos parar, e que paramos, par dar um flagrante, exatamente, na figura humana, que acredito tão rara nos nossos tempos, que apesar das dimensões brilhantes do profissional, supera o profissional, quase deixando como deixo, agora, o profissional, uma posição muito secundária, por que o Cabreira é a encarnação precisa da lágrima, do sorriso de uma criança que ele provoca.

Por isso, a Câmara parou no valor humano que se implanta, bem maior que outros valores que caem, recaem, que voltam e não voltam, que têm nexo e que não têm nexo, que às vezes têm causa e têm efeitos, são coisas da coisa, mas o sentido humano que o Cabreira impunha, sobretudo quando ele se exila em Santa Catarina, por vontade própria, nós dizemos que ele pertence, como pessoa humana, foi gerado em nossa terra, no Rio Grande do Sul, especificamente em Porto Alegre. Que a figura humana, de Cabreira, repito exaustivamente, pela vivência que tenho e pelo dia a dia que tenho, é realmente alguma coisa que é capaz de parar uma Casa e, sobretudo, alguma coisa que faz com que tenhamos que escrever num pergaminho, que ele é patrimônio nosso, que ele é cidadão emérito da Cidade de Porto Alegre e que, com ele, nós queremos estabelecer compromissos recíprocos da Cidade de Porto Alegre. Que ele não pense que fugiu daqui. Aqui é o seu lugar, em qualquer tempo, em qualquer momento. E isto a Câmara de Porto Alegre deixa escrito: que ele pode se exilar, mas nós o temos conosco e o julgamos um patrimônio da Cidade de Porto Alegre. Não temos instrumentos de tombar pessoas e, por isto, o tornamos Cidadão Emérito, como se tombado fosse e pertencesse ao patrimônio desta Cidade, ao patrimônio cultural, ao patrimônio afetivo desta Cidade. É este o nosso sentimento, a nossa verdade e a nossa razão. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

 O SR. PRESIDENTE: O Troféu “Frade de Pedra” representa um marco de nossa Cidade e traduz a hospitalidade gaúcha. É uma das incumbências do Presidente da Casa, de assim o fazer, mas, no entanto, eu pediria que, como também Cidadão Emérito desta Cidade, Fernando Corrêa fizesse a entrega, em nome dele, e da Cidade de Porto Alegre.

 

(O Jorn. Fernando Ernesto Corrêa procede à entrega do Troféu.)

 

O SR. PRESIDENTE: (Lê os dizeres do diploma.)

 

Eu me permitiria, quebrando o Protocolo, em homenagem a uma pessoa que hoje não tem cargos, mas que já teve grandes cargos nesta República, pediria ao ex-Deputado Nelson Marchezan que procedesse à entrega do Diploma.

    

(O Sr. Nelson Marchezan procede à entrega do diploma.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra à Assessora de Relações Publicas desta Casa que fará a leitura das mensagens recebidas, saudando o nosso amigo e homenageado.

    

A SRA. MAGDA PARKER: (Lê mensagens recebidas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Finalmente, concedemos a palavra ao nosso homenageado, Sr. Antonio Jesus Machado Cabreira.

 

O SR. ANTONIO CABREIRA: (Menciona os componentes da Mesa.) Exmo. Sr. José Francisco Pelegrini, Juiz de Direito de Montenegro; meus colegas da RBS; meu caro Júlio Tedesco; minha querida Marli Lopes; meus caríssimos doutores Gilberto e Alexandre Balsani; amigos Rudi e Alicinha; amigo Kraemer; amigo Cota, o casal de amigos; Elaine, Marta Liege, Profa. Cláudia, Otília; Magda Parker, Relações Públicas da Câmara Municipal; meus queridos irmãos Ruth, Leni e Nei Osvaldo; Srs. Funcionários desta Casa, minha querida Beth. Estou feliz, honrado, emocionado e, sobretudo, atrapalhado. Desculpem a imodéstia, mas esta não é a primeira homenagem que recebo, mas é uma das mais importantes. A primeira homenagem que tenho lembrança aconteceu há 34 anos. Naquela oportunidade, uma outra figura generosa que nem o Ver. Brochado da Rocha, que é o autor desta homenagem. Meu avô chamava-se Artur Machado da Silva e ele me homenageou com a primeira viagem a Porto Alegre: tirou um menino de Santana do Livramento com 9 anos de idade para conhecer a Capital do Estado e mais do que isso: me fez conhecer em 1954 o Bairro Azenha e tinha sido fundado 110 anos antes nesta Freguesia de Na.Sa.Madre de Deus de Porto Alegre. Mais do que isso: além de me mostrar o sentido histórico, o meu avô proporcionou-me conhecer e viver a emoção em 1954 de saudar na arquibancada do Estádio Olímpico do Grêmio Foot-ball Porto-alegrense e a participar da sua inauguração. Mais do que isso: acenar para uma moça muito bonita em cima de um carro e que era a Miss Brasil, na época, Marta Rocha. Em 1955 eu voltei para Santana do Livramento, que é também a terra do Kenny Braga, do Elemar Bonnes da Costa, dos irmãos Trindade, do Danilo Ucha, do Antônio Britto, esses meus amigos que militam na imprensa hoje e também dos meus amigos-irmãos Edgar, do Nei, do Osvaldo que lá estão, meus amigos de infância que até hoje me dá muita alegria e honra de tê-los como amigos. Tem o Luiz Carlos Sant’ana que ainda está lá e outro camarada chamado Odorelino Nunes Leal; o Odorelino, eu fiquei conhecendo quando estudava no Ginásio Estadual em Livramento e que nas vezes que podia chegar um pouco mais tarde, eu pedia humildemente a oportunidade de entrar naquele time para jogar com uma bola de pano juntamente com a gurizada em frente à Cervejaria Gasapina. Mas era uma concessão especial entrar naquele time, porque o Odorelino Nunes Leal o Rio Grande do Sul todo veio conhecer um pouco mais adiante, quando foi apelidado de Dorinho, vestindo a camiseta do Sport Club Internacional. E o Dorinho que era meu companheiro de bola de meia, na frente da Cervejaria Gasapina, no Bairro da Azenha, uma vez ofereceu-me carona em seu volks 4 portas, orgulhoso daquela conquista e mais ainda, orgulhoso por ter a honra de me dar uma carona alguns anos mais tarde, nesta Capital do Estado; nesta mui legal e valerosa Cidade de Porto Alegre.

“O povo alegre que canta e que dança está no Rio Grande do Sul. O churrasco o vinho e o mate gostoso está no Rio Grande do Sul.

O meu Guaíba quem vê não te esquece jamais.

Porto Alegre Cidade moderna bonita demais

No carnaval eu venho para cá para ver a gaúcha sambar”

Muito mais credenciado agora pela generosidade do Geraldo.

Tem uma coisa interessante na minha vida, aos nove anos eu conheci Porto Alegre; nove anos depois, no ano de 1963 eu voltei para Porto Alegre, aí definitivamente. Conheci algumas outras coisas, por exemplo: o Colégio Comercial Protásio Alves; a Ilhota, que já desapareceu; o Lupicínio Rodrigues, o G. E. Protásio Alves, que tinha na sua presidência um moço chamado Carlos A. Vieira, hoje prefeito de Quarai, meu companheiro de política estudantil e nessa ocasião tive a honra de assumir a Secretaria de Divulgação do Grêmio. Depois, fui andando, chegando a ser Secretário-Geral. Quando decidi que o meu negócio não era contabilidade e sim um curso charmoso e novo no colégio, o curso Técnico em Propaganda e Comércio, para lá me bandeei. Daí um ano, assumi a Presidência do Centro dos Alunos de Propaganda, que tinha como missão principal uma aproximação, desenvolver um trabalho de relações públicas com o mercado publicitário, visando buscar a abertura de mercado para os nossos companheiros. Por 67, representando P. Alegre, tive a honra de presidir o Congresso Estadual dos Estudantes de Ensino Comercial, realizado em Bagé. E mais do que isso: tão pronto cheguei de muda de Livramento, em 1963, na 4ª  série do Ginásio Comercial do Protásio, quis fazer uma homenagem aos meus companheiros: a exemplo do que tenho muito feito para Porto Alegre, agora, quis que eles conhecessem a minha terra natal, Santana do Livramento. À custa de muitos bailes e reuniões, no salão paroquial da Sagrada Família, com auxílio do Pe. Severino, juntamos um dinheiro bom para conhecer não só S. do Livramento como também para fazer uma viagem ao exterior, ao Uruguai, atravessando a linha divisória de Santana com Rivera.

Os anos foram se passando. Encontro-me, mais ou menos, em 68 ou 67: a maioria dos Senhores não sabe, mas tive a honra de ser São José, ser o dono da estalagem e de ser rei Mago num maravilhoso projeto e num presente, na época, a Cia. Jornalística Caldas Júnior dava para essa Cidade com o Colégio Cruzeiro do Sul que era o Presépio Vivo de Porto Alegre, e eu tive a honra como funcionário do Cruzeiro de, anonimamente, estar ali integrado a um grupo de pessoas, ao longo de três anos, dando a minha contribuição de levar uma mensagem de carinho, de fé, de esperança, e, sobretudo, numa coisa eminentemente comunitária dar a minha contribuição para alegrar esta Cidade, para estimular a fé e, sobretudo, exercer o maravilhoso convívio que é tão necessário para todos nós; recorro a um amigo, um poeta blumenauense, Lindolfo Del que diz “que enquanto dois pássaros, dois peixes e dois homens, fizerem do sonho, um sonho de vários pássaros, vários peixes e vários homens, permanecerá vivo o sonho de solidariedade entre os homens”.

Em 1968, continuava no Cruzeiro, e estimulado por uma aluna que tinha ido na secretaria, um dia, buscar sua documentação para o vestibular, eu me entusiasmei e fui fazer vestibular para a PUC. O nome dela é Bartira Costa; a Bartira me estimulou, fui fazer o vestibular e passei. Tive a honra de ser colega de Marli Lopes, que se transformou não só em minha colega, mas em uma querida irmã, uma extraordinária figura humana, que liderou um grupo do qual eu tenho a honra de fazer parte, que é integrado, além dela, por outros grandes companheiros, entre os quais o nosso tão conhecido Alexandre Garcia. E esse grupo desde o ano de 1968, na época, no saudoso Boi na Brasa, nos reunimos todos os meses. Lá se vão 20 anos. Nós deixamos a faculdade em 71, e desde então que esta turma continua se reunindo no dia 9/12 ou nos dias mais próximos de dezembro, trazendo a Porto Alegre os amigos para um reencontro, para uma confraternização para, sobretudo, ter a alegria de poder reencontrar para trocar idéias, experiências e acrescentar para cada um dos integrantes deste grupo. Em 1968, eu conheci um camarada chamado Sérgio Ivan Borges, meu professor que, até hoje, me deixou uma grande lição de vida. Despertou-me para a necessidade absoluta de ação e participação comunitária. Em 1978, no hospital dirigido por nosso querido e saudoso Arquimedes Fortini, Hospital da Criança Santo Antônio, recebia, dentre outros esforços, o esforço solidário dos alunos de Comunicação da PUC, liderados pelo professor Sérgio Ivan Borges. E, a partir daí, graças a Deus, não perdi o gosto de ajudar a minha comunidade. Em 1969, uma coisa muito bonita: a emoção de inaugurar o Gigante da Beira-Rio, de aplaudir o Claudiomiro a fazer um gol de cabeça no Benfica, num cruzamento do ponta esquerda Gilson Santos, e fazer aquela massa explodir de alegria, num momento histórico extraordinário para a grande parte da população desta Cidade e deste Estado. E eu estava lá, contribuindo, colaborando, correndo atrás dos jogadores, dos dirigentes, pegando camiseta, bola, material, tudo que era possível, para iniciarmos o nosso Museu da Imagem e do Som do Internacional. Em 1970, eu já estava em outra empreitada, contribuindo com o CONCETRAN – Conselho Comunitário de Educação para o Trânsito, uma coisa pela qual ainda hoje se luta. Eu era Secretário Executivo do CONCETRAN e mais do que isto: era o apresentador do SHOWTRAN, que era um show de trânsito que tinha música, que tinha PMs, que tinha situações de trânsito com crianças, que tinha um monólogo interpretado por mim e escrito pelo nosso querido Carlos Nobre. Fizemos esta apresentação em todas as escolas de Porto Alegre, levando uma mensagem de educação para o trânsito. E mais do que isto: não nos limitávamos às escolas, também fazíamos para os educadores, e à noite, tínhamos um espetáculo especial para eles, para que eles pudessem continuar com aquela mensagem. Foi uma coisa tão bonita que, para os senhores terem idéia, no dia 15 de novembro de 1970, depois de termos votado com as prioridades que nos foram concedidas, imediatamente viajamos, e tivemos a honra de conhecer Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, levando da nossa querida Porto Alegre, um projeto de educação para o trânsito, que encantou os nossos co-irmãos, autoridades de trânsito na América Latina, num Congresso Internacional em Brasília. Depois de tudo acertado com viagem prevista, a convite da Venezuela, Bolívia, Argentina, Paraguai, Uruguai, o partido que estava no governo perdeu a eleição, e como muda o governo, mudam as cabeças e os projetos, aquele projeto, que tenho certeza era bom, executado pelo Diretor do Detran, passou a não ser bom para o próximo governo, e, infelizmente, acabou. Nove anos depois, em 54 conheci Porto Alegre, em 63 mudei para cá, nove anos depois aconteceu a coisa mais importante para o homem, Antonio Cabreira, em 72, me encontrou, no dia 25 de novembro, no Santuário de Santa Rita de Cássia, entre os meus padrinhos, Eurico Saldanha de Lemos, Antonio Mafuz, e outros queridos, o Osvaldo que aqui está, eu casei com aquela moça ali, Elisabete Cabreira, prometi, e tenho, na medida do possível, tentado cumprir tudo que prometi para ela, e uma das promessas que fiz, conseguimos realizar seis anos depois, não chegou a completar nove anos, veio a nossa filha, produto nosso, chamada Aline de Cássia Pelegrine Cabreira, hoje está com dez anos e ela nasceu excepcional, com Síndrome de Down, o Mongolismo, mas a Aline, graças ao amor que a gente tem dedicado a ela, graças a fé e a esperança que a gente tem, graças à energia extraordinária que se recebe dos amigos e de todos aqueles que sabem o que é amar.

Tivemos oportunidade entre outras coisas, no ano passado, através da “Veja”, levar uma mensagem que comoveu o Brasil. Recebemos em casa, além de telefonemas de pessoas que nunca vimos, cartas, telegramas. Fui a São Paulo conversar com gente experimentada, um correspondente de guerra nos confessou que nunca uma matéria tinha sensibilizado tanto aquela gente de lá. Mais do que isto, ajudaram a nos estimular, tantas coisas boas que temos feito. E Porto Alegre me ajudou a isto, de ter com minha Beth, a minha Aline às 3 e meia do dia 06 de maio de 1963, no Moinhos de Vento. Meia hora depois o Dr. Sílvio me dizia por telefone, pois já sabia que minha mulher estava bem, que minha filha estava muito bem clinicamente, apresentava traços de mongolismo. Foi um tiro de canhão no meio da minha cara, que administro com a maior dignidade, amor, esperança e fé porque o que esta guria tem nos retribuído ao longo desses dez anos é uma coisa extraordinária. Mas em 72 conheci a Beth, em 74 fabricamos a Aline, e em 73 eu e o Celestino Valenzuela, contratados pelo Melchíades Stricher éramos os animadores muito competentes do carnaval da Av. João Pessoa. Quatro dias de alegria na avenida alegrando a moçada. No último dia a Beth chegou cansada, a Dona Carolina, sua mãe, cuidou tão bem da Beth, que casou comigo em novembro e em fevereiro já passava as noites em claro sem dormir e se alimentar e dei a ela a notícia de que tinha dado o cachê para a Santa Casa. Já fiz mais coisas para a Santa Casa, isso foi uma brincadeira.

Em 74 inventamos uma coisa: não tínhamos filho, morávamos na Bento Martins, trabalhava na MPM Propaganda e como ainda se trabalha muito naquela casa - que entrei pelas mãos do Saldanha, ajudado e estimulado pelo Cota -, o que que eu fiz? Não tinha tempo para nada e quando tinha era convocado por extraordinária, até na praia iam nos buscar.

Em 1974 eu combinei com a minha mulher o seguinte: vou entrar em férias. Só vou avisar na agência que eu estarei no “Cafofos Palace”, mas não vou deixar nem o telefone e viajamos em férias. Nos hospedamos no “Cafofos Palace”. Lembra-se querida Otília deste episódio? Nos hospedamos no “Cafofos Palace”, que nada mais era do que o nosso apartamento em Porto Alegre e fomos curtir Porto Alegre, a Beth e eu, curtir Porto Alegre em férias com um detalhe: olhando com os olhos de ver Porto Alegre e tanta coisa bonita que a gente passa por cima, de tantas coisas lindas que esta Porto Alegre tem, hoje ainda iniciava um rápido passeio nesta via de cinco quilômetros que nos deu uma condição de tráfego melhor e chegar mais rápido na Zona Sul, mas isso uma proximidade física maior com este Guaíba e uma paisagem extraordinária. São coisas que no dia-a-dia nós não vemos. E nós fizemos isso, ficamos hospedados no nosso apartamento, pela manhã saímos para tomar café onde nem café se fazia, fazia de conta que tinha arrumadeira, mas não tinha, arrumávamos a casa só pela noite quando voltávamos e também à noite íamos passear por Porto Alegre, comer a hora que bem entendíamos, lá na Spaguetilândia, algum lanche, visitar esta cidade, olhar com detalhes todo um monte de coisas que fazíamos e tanta coisa desapareceu. Certamente alguém da minha geração deve ter em casa alguma foto daqueles carrinhos puxados por cabritos lá na Redenção. Quem é que não teve oportunidade de conhecer a Confeitaria Rocco? Comer um sanduíche de pernil com suco de laranja no Matheus. Naquela época eu achava extraordinário o pessoal que não fazia refeições em casa e que comia na rua, na lanchonete, na lancheria do Matheus, lá, de pé, no balcão, com pressa.

Bom, tem tantas outras coisas bonitas que desapareceram na minha geração, mas tanta coisa que quem está vivendo aqui pode descobrir esta Porto Alegre, tantas coisas bonitas, que era bom a gente dar uma corridinha, parar ao lado do Cristal, olhar que ali, às vezes, não tem nada naqueles canteiros, entrar no Cristal, estacionar o automóvel, ver uma corrida lá, assistir a esta maravilha que nós temos aqui que é o Hipódromo do Cristal. E ver tantas outras coisas tão lindas, que eu vou cometer o erro de não citar, mas homenageio cada um de vocês, pedindo que lembrem das tantas coisas boas que esta Cidade já teve e de tantas coisas boas que ela tem. E que a gente curta isto.

Bom, eu quero dizer que, na MPM, aonde tive o meu relacionamento com a imprensa, graças a Deus foi o melhor possível. Eu me orgulho de, cada vez que deveria precisar para um cliente uma relação de jornalistas, eu sabia de cor mais de duzentos nomes. Me orgulho de nunca ter pedido a um departamento comercial para colocar um “release” no jornal, nunca. Sempre foi através dos homens da redação e desde que interessasse a eles. Em 81, outra coisa que vocês não sabem: nasceu o Zás Trás, em fevereiro, que o Geraldo referiu aqui. Desde esse ano, passei a pintar a cara e me vestir de palhaço chamado Zás Trás, que é uma das coisas mais bonitas que eu já fiz na minha vida, a ponto de, há dois anos atrás, numa promoção de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, para a Kibon, em 45 dias, o personagem recebeu 128.013 cartas. E quem estava no Estádio gigante da Beira-Rio no segundo evento da RBS, chamado Chegada do Papai Noel, não me reconheceria por baixo daquela roupa vermelha, daquela barba. Mas talvez tenham ouvido: “Meus queridos, que bom estar de volta nesta terra...” Que bom chegar de helicóptero e ver aquela massa humana no estádio, se emocionando, que quase eu não enxergava porque as lágrimas estavam no rosto e me impediam de ver. Até o ano retrasado fiz isso anonimamente, mas com uma emoção danada, mas continuo até hoje sendo a voz do Papai Noel. Hoje, à tarde, ainda subi na TV Gaúcha e gravei as duas mensagens do Papai Noel: sua chegada no dia 13, em Florianópolis, e no dia 4, aqui. É maravilhoso estar em casa, trabalhando, e bate o telefone da produção da Rádio Gaúcha, Programa Lauro Quadros, isso já acontece há uns cinco anos, e daí um pouco entra no ar, pela Rádio Gaúcha, direto do Pólo Norte, o Papai Noel, conversando com o Lauro e com seus ouvintes. O Lauro, generosamente, manda um abraço para um amigo dele que está viajando pelas bandas, o Antonio Cabreira.

Dei aula na PUC, de 75 a 80, me perdoem meus ex-alunos, mas fiz o que era possível. Recebi uma homenagem, em 78, por uma turma da PUC; em 82, o Sindicato dos Profissionais de Relações Públicas do RS, através da generosidade do companheiro Nei Remédio de Souza, estabeleceu o Troféu “O Bolicheiro”, Troféu de Comunicação para homenagear pessoas e profissionais que se destacaram no ramo, pela generosidade, eu tive a honra de ser agraciado, em 82, e infelizmente não pude vir, mas minha mulher me representou, junto com Antônio de Lisboa Mello e Freitas, junto com Antônio Mafuz, da MPM Propaganda, junto com Nélson Sirotsky Sobrinho, junto com Nélson Marchezan, que aqui está.

Em 84, se é que eu esperava uma homenagem maior aconteceu. Fui convidado e tive a honra – e fico feliz em ver pelo menos duas das minhas afilhadas, a Martinha e a Claudinha, escolhido como paraninfo da turma de Relações Públicas da PUC. Este ano voltei, um outro grupo, como homenageado especial dos formandos do primeiro semestre de 88. Aqui, novamente, nesta cidade de Porto Alegre,  além de Presidente do Centro dos Alunos de Propaganda, eu fui Diretor da Associação Brasileira de Relações Públicas, tive a honra de ser Diretor da ADVB, uma entidade que é uma glória para este Estado, e que nas mãos de Heitor Krammer que, hoje, é uma honra para a RBS, e para mim tê-lo como colega, lá, experimentou momentos extraordinários, especialmente, na gestão do companheiro Nelson Sirotsky, agora, há pouco, eu fui Conselheiro e colaborador da Associação Riograndense de Imprensa, onde comecei nos sábados de manhã, no barzinho, e quem em comunicação não aprendeu a fazer isso? Eu fui, na gestão de Eurico Saldanha de Lemos, fui membro do Conselho Regional de Profissionais em Relações Públicas. Hoje, tenho a honra de ser do Conselho Federal dos Profissionais de Relações Públicas que reúne os 14 profissionais de todo o Brasil, que representam sete mil profissionais da classe; fui da Associação Rio-Grandense de Propaganda; de todas essas entidades participei e dei a minha humilde contribuição.

Nilton, desculpe te roubar todo este tempo, o Nilton é daqui de Porto Alegre, meu amigo e meu companheiro de Jurerê, e a quem eu não tinha reconhecido.

Amor é doação. Muito obrigado pela bondosa e generosa parcela que vocês fizeram, agora, aqui, me honrando com a generosa presença e, sobretudo, me confortando e me emocionando mais ainda; eu não merecia prender vocês até agora, ouvindo esta história, mas eu tinha necessidade de contá-la para vocês, até para que vocês entendessem quem não conhecia, um pouco mais desta minha história de amor com Porto Alegre e, que não sei por que o Geraldo com a sua inteligência, o seu tino tenha descoberto uma história de 34 anos de namoro. Se eu não tivesse motivo para amar esta Cidade, certamente, a partir de hoje, eu teria, a minha mulher que nasceu em Bom Jesus é porto-alegrense de coração, esta é a Cidade dela. A Beth sofre muito com saudades daqui ainda. Eu não tanto, porque volta e meia estou aqui, ou de Papai Noel, ou de Zás Trás, ou de Cabreira, ou de amigo, mas, sobretudo, dizendo que eu existo e que eu amo esta terra, e amo as pessoas, os meus amigos, os meus colegas, os meus ex-colegas. Eu amo, sobretudo, o ser humano, eu amo, sobretudo, a inteligência e a capacidade dos homens de se doarem, de se amarem e de se compreenderem. Eu amo, sobretudo, momentos como este, que me deixam muito feliz e honrado.

E posso lhes dizer muito obrigado, não sem antes evocar uma figura querida e linda. Pena que tenha ido tão cedo, mas que deixou uma obra fantástica. E quem não teve a oportunidade de ver e de apreciar esta obra, um dia terá. Em outubro de 1981, Maurício Sirotsky Sobrinho disse, e eu peço permissão a ele para repetir aos senhores, o seguinte: “Viver é distribuir um pouco da sua vida, é deixar um recado, é ficar.” Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Pediria à Sra. Professora Sandra Terra que fizesse a entrega de umas flores à Sra. Elisabete Cabreira.

 

(É feita a entrega das flores.)

 

Dando por cumprida a missão que era desígnio desta Casa, quero agradecer a todos os presentes, autoridades componentes da Mesa, ao Cabreira, a sua Senhora, especialmente, por ter a consciência clara de que os Anais da Casa recolhem um precioso documento, para ter e fazer parte da história da nossa Cidade, com a palavra do Cabreira. Muito obrigado.

A Sessão está encerrada.

 

(Levanta-se a Sessão às 20h50min.)

 

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